quinta-feira, 12 de maio de 2011

Não é estranho?

Não é estranho?

            Por onde começar... Sinto enorme estranheza ao observar alguns dos acontecimentos que vão marcando a política internacional.  Veja-se o caso do Coronel Muammar Gaddafi. Gaddafi está no poder na Líbia já desde 1 de Setembro de 1969. Manietado parte do povo, partidos políticos são oficialmente rejeitados,a liberdade de imprensa é uma miragem. Poderia falar em mais ataques aos direitos do Homem, mas fiquemos por estes dois: ausência de sistema democrático e ausência de liberdade de imprensa.
Falamos então de sujeitos que impõem a sua vontade a um povo que não se pode exprimir nem através do voto, nem sequer através de artigos de opinião ( que bom é viver em Portugal, não é?).
            Veja-se também o caso da Republica Popular da China onde o desrespeito por estes e outros direitos são sistematicamente continuados, note-se que apesar do enorme desrespeito por parte do regime chinês este tem, por exemplo, a honra de ser membro permanente do conselho de segurança das Nações Unidas com direito a veto!
            Poderíamos falar do caso do Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe o qual as atrocidades estão bem documentadas, inclusive a proibição de entrar na União Europeia que ele, em acto de profunda fé, quebra para prestar tributo a João Paulo II ( beato) ? Mugabe, que em actos eleitorais mais ou menos obscuros, vai estando no poder desde 1980.
            Falar do caso Cubano? Do caso da Coreia do Norte? Do Vietname?
            Acho estranho que conforme a maré ( ou seja, interesses económicos), estes senhores e outros, que desprezam a condição humana e espezinham os povos dos seus países, sejam recebidos com honras de estado em países democráticos?
            É triste que a lei da concorrência e o mercado cego se sobreponha à consciência moral destes nossos governantes democraticamente eleitos. Quem não se lembra da boa relação entre Gaddafi e José Socrates? Gaddafi e Pompidou? Gaddafi e Zapatero? Cavaco Silva e Hu Jintao?
            Nesta coisa dos valores, ou se tem valores ou não se tem. Existem princípios que não podem estar à venda. Sim, é certo que a situação económico-financeira do mundo democrático não está de grande saúde. Pergunto-me, a que se deve a saúde destas novas e emergentes potências? Quão gritantes são as desigualdades sociais nestes países? Como comparar a qualidade de vida de um trabalhador Europeu com a de um Chinês? Infelizmente, e sem muitas vezes estarmos a ter consciência disso, estamos todos os dias a alimentar esses enormes monstros produtores que são a China, Índia e afins. Eles vendem barato é certo, mas à custa de quê? Eles são mais competitivos é certo, tem menos carga fiscal, mas à custa de quê? A resposta é-me inquietante. À custa do sofrimento e da privação de uma grande franja da sociedade que se vê renegada para segundo plano não tendo acesso a sistema de saúde, educação ou segurança social.  
            Ao que parece os Direitos Humanos são, para alguns, letra morta. E a sua defesa depende do interesse do momento. Esta ausência de valores por parte destes nossos estadistas ocidentais é, a meu ver, gritante. Enquanto meros cidadãos pouco podemos fazer, é certo. Toda a trama geopolítica nos ultrapassa, porém uma coisa é certa: estar informado e pelo menos lembrar e exigir daqueles que nos representam atitudes condignas é o mínimo que podemos fazer por esses nossos irmãos e irmãs para com os quais diz certa declaração "devemos agir em espírito de Fraternidade".  Não posso impor este dever a ninguém. Sa minha parte, sinto que a minha consciência moral não me permite compactuar com políticas desta magnitude, políticas que causam sofrimento a milhões, políticas que levam à miséria, ignorância, doença e perda da dignidade de milhões. Por isso escrevo.

P.S. - Para se ter uma ideia de como está o mundo em termos de liberdade de expressão e democraticidade aconselho uma breve pesquisa no sítio freedomhouse.org, uma organização que todos os anos faz o levantamento de vários parâmetros no que toca à liberdade de expressão em quase todos os países do globo. No que toca à democraticidade dos Estados, um breve pesquisa em Democracy Index dará importantes informações no que toca a este tema. 


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